segunda-feira, 13 de junho de 2011

Discurso de S.S Pio XII aos recém casados 11 de Março de 1942

 
Leitores, o raio do resfriado ainda não foi embora, por isso ando mais pra lá do que pra cá. Fiquem com esse belo texto do Papa Pio XII.
A gente se vê, boa semana!



Sim, a esposa e mãe, é o sol da família. Sol com sua generosidade e submissão, com sua constante prontidão, com sua delicadeza vigilante e previdente em tudo o que serve para tornar alegre a vida ao marido e aos filhos. Em torno dela difunde-se luz e calor; e costuma-se dizer então que um matrimônio é bem-aventurado, quando cada um dos cônjuges, ao contraí-lo, mira fazer a felicidade não própria, mas da outra parte; este nobre sentimento e esta intenção, embora dizendo respeito a ambos, é porém antes de tudo virtude da mulher, que nasce com as palpitações de mãe e com a maturidade de coração; aquela maturidade que, se recebe amargura, não quer dar senão alegria; se recebe humilhações, não quer dar senão dignidade e respeito; à semelhança do sol que alegra a manhã nebulosa, com seus albores e doura os ninhos com raios de seu ocaso.
A esposa é o sol da família pela clareza de seu olhar e pela chama de sua palavra; olhar e palavra que penetram docentemente na alma, dobram-na e a enternecem e a solevam fora do tumulto das paixões, e reclamam para o homem a alegria do bem e da conversação familiar, depois de um longo dia de contínuos, por vezes penosos trabalhos profissionais ou campestres, ou de imperiosos afazeres do comércio ou da indústria.
Seu olhar, seus lábios lançam lume e têm um acento de mil fulgurações em um luzir, mil afetos em um som. São lampejos e sons que saem do coração da mãe, criam e vivificam o paraíso da infância, e sempre irradiam bondade e suavidade, ainda quando avisam e reprovam, porque os ânimos juvenis, que mais forte sentem, mais intimamente e profundamente acolhem os ditames do coração.
A esposa é o sol da família com sua cândida naturalidade, com sua digna simplicidade e com seu decoro honesto e cristão, tanto no recolhimento e na retidão do espírito, como na sutil harmonia de seu comportamento ou de seu vestido, de seu ajustamento e atitude, ao mesmo tempo reservados e afetuosos. Sentimentos leves, delicados acenos do rosto, ingênuos silêncios e sorrisos, um condescendente movimento de cabeça, dão-lhe a graça de uma flor eleita e simples, que abre suas corolas para receber e refletir as cores do sol.
Oh! se vós soubésseis que profundos sentimentos de afeição e reconhecimento tal imagem de esposa e de mãe suscita e imprime no coração do pai e dos filhos!
Ó anjos, que guardais a casa e escutais suas preces, espargi de perfumes celestes este lar de felicidade cristã!
Mas se suceder que a família permaneça sem este sol, como será? Se a esposa continuamente e a cada circunstância, mesmo nas relações mais íntimas, não titubeia em fazer sentir quantos sacrifícios lhe custa a vida conjugal? Onde está sua amorosa doçura, quando com uma excessiva dureza na educação, com uma excitabilidade mal dominada e uma irritante frieza no olhar e na palavra sufoca nos filhos o sentimento e a esperança de encontrar alegria e feliz paz junto da mãe?
Quando ela não faz senão perturbar triste e amargamente, com voz áspera, com lamentos e reprovações, a confiante convivência no círculo familiar? Onde está a generosa delicadeza e o terno amor, quando ela, em vez de criar com natural simplicidade e prudente uma atmosfera de agradável tranqüilidade na casa, toma ares de irrequieta, nervosa e exigente senhora, bem de moda hoje?
Seria isso difundir benévolos e vivificantes raios solares, ou é antes um esfriar, com vento glacial o jardim da família? Quem não se maravilhará então se o homem, não encontrando naquele lar o que o atraia, retenha e conforte, afaste-se o mais que puder, provocando semelhante afastamento da mulher, da mãe, quando o afastamento da mulher já não tenha preparado o afastamento do marido; um e outra indo-se assim à procura, fora – com grave perigo espiritual e com dano para a união familiar – do sossego, do repouso, do bem-estar, que lhes não concede a casa? Em tal estado de coisas os mais desventurados a sofrer são, fora de qualquer dúvida, os filhos! Eis ó esposas, até onde pode chegar a vossa parte de responsabilidade para a concórdia da felicidade doméstica.
Se ao vosso marido e ao seu trabalho cabe procurar e estabelecer a vida do lar, a vós e ao vosso cuidado cabe ajustar o conveniente bem-estar e providenciar a pacífica serenidade comum de vossas duas vidas. Isto é para vós não somente uma obrigação de natureza, mas também um dever religioso e uma obrigação da virtude cristã, para o vigor de cujos atos e de cujos méritos vós crescereis no amor e na graça de Deus.
“Mas – dirá talvez alguma dentre vós – desta maneira nos pede uma vida de sacrifício!”. Sim; a vossa é vida de sacrifícios, mas não somente de sacrifícios. Acreditais vós, por acaso, que aqui embaixo se possa gozar de uma verdadeira e sólida felicidade? Que em algum ângulo deste mundo se encontre a plena e perfeita beatitude do paraíso terrestre? E pensais talvez que vosso marido não deva também ele sacrificar-se, por vezes gravemente, para conseguir um pão honrado e seguro para a família? Exatamente estes mútuos sacrifícios, suportados juntos e em comum vantagem, dão ao amor conjugal e à felicidade da família a sua cordialidade e estabilidade, sua profundidade santa e aquela especial nobreza que se exprime no mútuo respeito dos cônjuges e os exalta no afeto e no recolhimento dos filhos.
Se o sacrifício materno é o mais agudo e doloroso, a virtude do alto os tempera. De seu sacrifício a mulher aprende a compaixão às dores alheias. O amor para a felicidade de sua casa não a fecha em si; o amor de Deus, que a exalta no seu sacrifício acima de si, abre-lhe o coração a toda piedade e a santifica.
“Mas- objetar-se-á talvez ainda – a moderna estrutura social, operária, industrial e profissional, leva em grande número a mulher, também as casadas, a sair de fora do lar, da família e a penetrar no campo do trabalho e da vida pública”. Nós não o ignoramos, queridas filhas. É muito duvidoso se essa condição de coisas constitui para uma mulher casada o que se diz do ideal. No entanto, é preciso ter presente o fato. Com tudo a Providência, sempre vigilante em seu governo da humanidade, inseriu no espírito da família cristã forças superiores que servem para mitigar e vencer a dureza de um tal estado social e obviar os perigos, que indubitavelmente em si escondem.
Não tendes vós talvez observado como o sacrifício de uma mãe, que, por especiais motivos, deve além de seus deveres domésticos, se engenha para buscar, a custa de um duro trabalho cotidiano o sustendo da família, não somente conserva, mas alimenta e aumenta nos filhos a veneração e o amor para com ela, e obtém seus reconhecimentos por suas angústias e fadigas, quando o sentimento religioso e a confiança em Deus constituem o fundamento da vida familiar?
Se tal é o caso no vosso matrimônio, com plena confiança em Deus, o qual ajuda sempre quem o teme e o serve, ajuntai, nas horas e nos dias que podeis dar inteiramente aos vossos entes queridos, um redobrado amor e um ciumento cuidado, não somente para assegurar à verdadeira vida da família o mínimo indispensável, mas também para deixar que de vós procedam no coração do marido e dos filhos tantos luminosos raios de sol, que confortem, fomentem e fecundem, também nas horas da separação exterior, a espiritual união do lar.
E vós, esposos, colocados por Deus como cabeça de vossas esposas e de vossas famílias, ao mesmo tempo que contribuís com vosso trabalho para o seu sustento, prestai vossa ajuda também à obra de vossas mulheres no cumprimento da santa e elevada – e não raras vezes fatigosa – missão. Colaborai com elas, com aquela solicitude e afeto que faz um de dois corações, e uma mesma força e um mesmo amor. Mas sobre esta colaboração e seus deveres, e as responsabilidades que derivam também para o marido, teria muito o que dizer, e por isso nos reservamos para vos falar em outras audiências.
Ante vós, recém-casados, que sucedeis a outros grupos semelhantes que vos precederão adiante de nós e por nós foram abençoados, nosso pensamento nos traz à mente o grande dito do Eclesiastes: “Passa uma geração e sucede outra; mas fica sempre a terra”1. Assim correm novos séculos, mas Deus não muda; não muda o Evangelho nem o destino do homem para a eternidade; não muda a lei da família; não muda o inefável exemplo da família de Nazaré, grande sol de três sóis, um deles, um dos fulgores mais divinos e mais ardentes que os outros dois que os rodeiam. Olhe aquela modesta e humilde casa, oh pais e mães: contemplai Aquele que se cria “filho do carpinteiro”2, nascido do Espírito Santo e da Virgem escrava do Senhor; e conforta-os nos sacrifícios e nos trabalhos da vida; ajoelhai-vos ante eles como crianças; invocai-os, suplicai-lhes; e aprendei deles como as contrariedades da vida familiar não humilham, e sim exaltam; como não fazem ao homem nem a mulher menores para o céu, e sim que valem uma felicidade, que em vão se busca entre as comodidades deste mundo, onde tudo es efêmero e fugaz.
Terminaremos nossas palavras elevando à Santa Família de Nazaré uma ardente súplica por todos e cada um de vossos lares, para que vós, queridos filhos e filhas, cumprais vosso oficio à imitação de Maria e de José, e assim possais educar e fazer crescer aqueles pequenos cristãos, membros vivos de Cristo, que estão destinados a gozar convosco um dia a eterna bem-aventurança do céu.
É o que pedimos ao Maestro divino, enquanto com todo o coração vos damos nossa paterna benção apostólica.

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